segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Traslado do PU-XAB: Rio/ Campina

Caros amigos.
Neste artigo relatarei o traslado que fizemos do Rio de Janeiro para Campina Grande do PU-XAB. Essa aeronave já me pertenceu e foi meu passaporte para esse mundo fantástico da aviação. Por isso guardo um carinho todo especial por ela. Se alguém quiser compreender melhor o que falo, escrevi um texto onde relato minha iniciação na aviação e como esta aeronave tem tudo a ver com isso. Esse texto está publicado neste Blog com o título “A Realização de um Sonho!!!” postado em fevereiro de 2008.
Depois de voar o PU-XAB por mais de dois anos e umas 350 horas vendi-o a Roberto Dantas e Juan Pinheiro que aprenderam a voar nele. Alguns meses depois Roberto comprou um Sting e revendeu sua parte a Lincoln Freitas que passou também a ter instrução nele. Pouco tempo depois Juan resolveu revender sua parte, pois resolveu comprar um FK-9 novo. Com isso Lincoln passou a ser proprietário exclusivo do XAB, como carinhosamente o chamamos.
Logo após a compra, quando em instrução tivemos uma pane de CDI, então Lincoln resolveu mandar o XAB para o Rio de Janeiro onde fica a Alpha Bravo, fabricante dos FK-9 no Brasil, para uma revisão geral de célula e uma descarbonização do motor. Foram retiradas as asas, embaladas e postas num caminhão baú junto com a fuselagem e motor e embarcados para a fábrica. Passaram-se 5 meses até a aeronave ficar pronta. Foi um longo tempo de stress, mas que valeu a pena pois na fábrica o avião foi totalmente desmontado e refeito resultando no que parece ser uma aeronave completamente nova. Depois do trabalho na célula, o avião foi mandado para o Clube CEU para revisão de motor com o Kid. Após mais 2 semanas como não tínhamos notícias concretas sobre o andamento do serviço, Lincoln e eu resolvemos ir ao Rio no intuito de trazê-lo de volta, já que tinha sido prometido pelo Kid que o mesmo estaria pronto, mas para nossa surpresa, ao chegarmos dia 18/12/08 o serviço ainda não havia terminado. Faltava instalar o intercom, fechar o motor e fazer todos os ajustas finos já que a viagem de volta seria bem longa. Trabalhamos muito, mas não deu, pois o Natal se aproximava e como as condições climáticas não estavam nada favoráveis, poderíamos ficar presos pelo meio do caminho e passarmos as festas natalinas fora de casa. Então no domingo à noite dia 21/12 estávamos saindo do Rio num avião de carreira. Lincoln super decepcionado e eu também.
Passaram-se as festas de fim de ano e no dia 22 de janeiro mais uma vez estávamos embarcando para o Rio para trazer de volta ao ninho o PU-XAB. A meteorologia não estava nos ajudando o que só contribuía para aumentar a ansiedade de Lincoln e a minha responsabilidade. Ao chegarmos, na sexta-feira, o tempo estava encoberto, mas sem chuva. Lavamos o avião e após uns pequenos ajustes fomos fazer um voo para checar se estava tudo em ordem.



Ao começarmos o taxi sentimos o estado da pista: pesada e super encharcada pelas chuvas dos últimos dias. Com isso decidi que iria levar a aeronave para o Aeroporto de Jacarepaguá onde de lá decolaríamos no outro dia bem cedo. A decisão baseou-se no fato de que iríamos decolar full tanque com dois a bordo e mais nossa bagagem e as exíguas pistas do CEU não ajudam em nada numa situação dessas e uma pista maior e de asfalto como a de Jacarepaguá minimizaria o risco de nos envolvermos em algum acidente. Depois do pouso em “Jacaré”, abastecemos, deixamos tudo mais ou menos preparado para o voo, amarramos bem a aeronave, pois a noite prometia ventos fortes, e fomos comer.

O céu estava bem encoberto como dá prá ver.
Lincoln, Sérgio Filho e Zurita.


Finalmente está chegando o dia do retorno.

Após o jantar nos demos conta do quanto estávamos cansados. Sérgio Filho que é o engenheiro da Alpha Bravo nos deixou no hotel e colocamos o despertador para as 04:30 antes de desmaiarmos. Apesar de exausto, não dormi bem e antes do despertador tocar já estava acordado com a chuva batendo na janela do nosso quarto. “Caraca! estamos presos pelo mau tempo”, pensei. Lincoln também acordou e decidimos dar mais um cochilo, pois nossa intenção de decolar ao nascer do sol tinha ido pro beleléu. Levantamos por volta das 6:30, tomamos café e decidimos ir para o Aeroporto, mas com aquela chuva não ia adiantar nada. Foi aí já no taxi que Lincoln deu a idéia de irmos conhecer o Musal, Museu Aeroespacial no Campo dos Afonsos. Ôpa, boa idéia! Na mesma hora pedimos ao taxista para mudar o itinerário para o Campo dos Afonsos e chegamos na hora da abertura do Museu. O Musal tem um acervo bem grande e valioso, e merece ser visto, mas fica aqui minha ressalva quanto a qualidade das restaurações que fica a desejar bem como a limpeza das aeronaves expostas. Algumas peças estavam bem empoeiradas. Para quem conhece o museu da EAA em Oshkosh, pode sentir a diferença. Lá diferentemente daqui as aeronaves parecem novas como que saídas de fábrica. Mas, mesmo assim, dá prá se divertir bastante e conhecer um pouco da história da nossa aviação.











Lá pelo meio-dia vimos que o céu estava clareando e resolvemos correr para Jacarepaguá. Como tínhamos feito plano de voo no dia anterior e como o aeródromo permaneceu fechado a manhã inteira, nosso plano ainda estava valendo. Quando chegamos por volta de 12:45, o Aeroporto ainda estava “fechado”. Logo em seguida abriu para os asas rotativas e foi aquela correria no Aeroporto, pois os helicópteros offshore estavam esperando desde o início da manhã para decolar. Só por volta de 13:15 local, abriu para os asas fixas. A camada ainda estava muito baixa, mas decidimos decolar para ir adiantando o pouco que desse. Nossa decolagem foi às 13:32 local e em seguida curva à esquerda pelo Corredor Bravo com 500 pés que era o que dava para manter.




Camada Baixa, passamos a boca da barra e ingressamos no Corredor Alfa até Saquarema. Depois Corredor India, onde solicitamos ao Controle Aldeia proa direta para Macaé. Autorizados, lá vamos nós com a Lagoa de Araruama no nosso través. Nesse trajeto até Campos pudemos ver a região toda alagada pelas fortes chuvas que ocorreram por esses dias. Uma tristeza!
Apesar do tempo carrancudo, fomos driblando algumas nuvens muito baixas, mas o vento nos ajudava nos empurrando até uma velocidade de 105 knots de VS. Ao passar Campos a nossa esperança foi aumentando pois o tempo foi melhorando e já tínhamos certeza de chegar em João Monteiro, Vila Velha/Vitória. Pouso pela 23 coordenando com dois ultraleves no tráfego. 2:57 de voo e consumo de 39,4 litros. Ao pousar conhecemos Lira que é proprietário da escola Flight Level-FL e Carlos seu aluno. Pessoas finíssimas que só engrandecem nossa família aerodesportiva. Como já era final de tarde resolvemos pernoitar e Lira nos levou a uma pousada que eu recomendo: Pousada Brisa na Barra de propriedade de Antonio. Depois de (bem) instalados, Lira nos levou prá comer uma moqueca Capixaba no Ristorante do Vicenzzo que também recomendo, pois a comida é de excelente qualidade. Depois de muito papo (imaginem sobre o quê) e muita comida voltamos prá Pousada para um merecido descanso. Por enquanto está indo muito bem, pensei!
Lira, eu e Carlos.



No dia seguinte por volta das 5:30 acordamos e o tempo estava bem bonito. Beleza! Às 6:30 Lira nos pegou na Pousada para nos levar ao Aeroclube. Lá ele nos mostrou suas aeronaves: um Pelican super equipado e um Bravo 700 todos muito bem cuidados, no capricho mesmo. Arrumamos tudo, nos despedimos de Lira e às 7:30 estamos decolando de novo, agora com plano de voo para Ilhéus a 1500 pés pelo litoral. Decolamos e logo após pegamos uma chuva na nossa proa o que nos fez curvar à esquerda passando quase na vertical de Goiabeiras em contato com o Controle Vitória.

Daí prá frente foi um exercício de contorcionismo passando por cima de uma nuvem por baixo de outra, curvando à esquerda subindo depois à direita descendo de novo, mas sempre mantendo o visual até que um pouco antes de Porto Seguro uma aeronave nos informa pelo rádio que em Belmonte não dava prá passar visual. “Caramba! Vamos pousar em Porto”, falei prá Lincoln, mas antes de chegarmos a Porto Seguro já víamos ao longe um tremendo CB despejando um mar de água sobre a cidade, e logo em seguida o Controle Porto nos informa que o aeroporto estava fechando. Já estávamos livrando o litoral pela esquerda para tentar chegar a Porto quando passamos na vertical de SNEC. Já tínhamos chuvisco no pára-brisas quando resolvi voltar e pousar em SNEC-Outeiro das Brisas. Caros amigos NUNCA pousem nesse aeródromo! A pista que é de barro puro já estava encharcada e fazia o avião derrapar perigosamente. Ela é particular e quando estacionamos em um pátio que fica mais elevado e que deu um certo trabalho prá subir por conta do barro, nos acercou o Sr. Almeida que sem a menor condescendência nos aplicou uma “taxinha módica” de R$ 90,00 pelo pouso e isso porque foi uma emergência se fosse pouso normal seria “somente R$ 200,00”, é mole? Isso é uma verdadeira ARAPUCA! CUIDADO!!!

Depois da "aplicação", olha só a cara de Lincoln sentado na "sala VIP" de Outeiro das Brisas, rsrsrsrsrsrs.
Esperamos por uma hora mais ou menos e quando a chuva passou decolamos para Porto Seguro que fica a umas 17 milhas ao norte. Às 11:30 local, após um pouso tranqüilo nos dirigimos ao pátio da aviação geral para abastecimento da máquina alada e da nossa própria.

3 horas e 9 minutos de voo e 48,4 litros. Após abastecimento fomos prá sala AIS para refazer o nosso plano e verificar as condições em rota o que se constatou nada favorável. Checamos os METAR em Comandatuba, Ilhéus e Itaparica e verificamos que haviam vários TCUs sobre Ilhéus. Mas na verdade eu estava mesmo era querendo a opinião de alguma aeronave que estivesse vindo da região para nos informar sobre as condições em rota . Isso só aconteceu por volta de 13:30 quando uma aeronave que havia decolado de Comandatuba informou que a “meteoro” estava favorável entre os dois aeródromos. Resolvi então, fazer plano para Ilhéus alternando Comandatuba, pois caso desse, avançaríamos mais um pouco.
Decolamos de Porto Seguro às 14:35 hora local e como até Comandatuba o clima estava favorável, decidimos prosseguir para Ilhéus. Ao nos aproximarmos de Ilhéus, como as condições estavam se mantendo, solicitei cancelamento do plano de voo e solicitei um plano afil para Itaparica. De início o controlador solicitou que eu pousasse, mas como argumentei que não daria tempo de chegar antes do por do sol em Vera Cruz caso tivesse que esperar autorização do novo plano, o controlador muito gentilmente aceitou nosso plano afil e seguimos para SNVR. Ao controlador de Ilhéus nosso muito obrigado!




Morro de São Paulo.
Vamos tocando com um vento de través pela direita nos segurando, mas mesmo assim completamos a etapa entre Porto Seguro e Vera Cruz em 2:36. Chegamos por volta das 17:10 local e completamos o tanque com 38,2 litros.
Logo chega o guarda-campo de Itaparica e temos mais uma surpresa: mesmo abastecendo na bomba do Aeroclube, temos que pagar R$ 30,00 pelo pouso! Ou seja, quase oitenta centavos a mais por litro abastecido. É mole? Já não basta a avgás por R$ 4,50, ainda temos que pagar taxa de pouso. Não dá para entender a lógica dessas pessoas. Querem arrancar a pele de quem voa. E o pior ainda estava prá acontecer: a permanência no aeródromo mesmo que no pátio exposto ao tempo custa R$ 3,00 por HORA! É amigos, TRÊS REAIS POR HORA! O pouso e o pernoite nos custou R$ 75,00! É melhor pernoitar em SBSV, Luis Eduardo Magalhães.
Olha só a cara de Lincoln. E haja aplicação!

Mas a salvação foi Bruno da Paradise. Bastou um telefonema e em poucos minutos Bruno chegou e nos deu toda assistência. Mostrou toda a fábrica da Paradise. Em seguida nos levou para a Pousada Sol Nascente onde nos instalamos e em seguida fomos juntos com sua esposa Carla e seu filhinho jantar num restaurante onde saboreamos um Dourado ao molho de camarão como nunca havia comido igual. Voltamos para a Pousada e fomos dormir cedo, pois ainda tínhamos uma distância considerável a percorrer.

Cmte. Bruno e seu copila.
No dia seguinte já na segunda-feira às 7:30 local já estávamos chegando ao aeroclube e às 08:00 estávamos decolando para Maceió. Antes de prosseguir com esse relato, quero agradecer a Bruno a acolhida simpática e carinhosa para conosco. Esperamos poder retribuir isso em breve, caro Bruno. Mantivemos 500 pés sobre a Baía de Todos os Santos até ingressar no Corredor Caixa Prego, depois Corredor Axé, cruzamos o prolongamento da 10 de SBSV e continuamos na proa de Aracaju a 1500 pés.



Aracaju (SBAR) no través.

Foz do "Velho Chico" .
Passamos Aracaju e seguimos para Maceió sempre com aquele vento nordeste nos segurando. Foram 3:16 até Maceió onde pousamos perto de 11:20 com um ventão de 18 knots, mas bem aproadinho. Enquanto Lincoln abastecia, corri para a sala AIS para fazer o nosso plano de voo DCT para Campina Grande, nossa última perna. Abastecemos com 49,8 litros e o abastecedor nos convidou para irmos comer um “bolinho com guaraná” no escritório da Shell. Não nos fizemos de rogados e fomos no próprio caminhão de abastecimento. Lá conhecemos o Sr. Gildo, figura conhecidíssima no meio aeronáutico que nos presenteou com agendas, funis e como é de costume tirou fotos nossas para colocar num dos seus “MILHÕES” de álbuns de fotos de todos os pilotos que passam por lá. Uma simpatia contagiante. Enquanto eu conversava com “seu” Gildo, Lincoln dava um abalo no queijo do homem, rsrsrsrsrs. Calma, Lincoln e parabéns a Sr. Gildo pelo marketing.

"Seu" Gildo. Figuraça!




De Maceió decolamos para Campina Grande-Aeroclube (SNKB) às 12:30 com vento de 17 knots. Solicitamos o FL 075 pensando em ir sobre a camada, mas a mesma estava ainda mais alta e fomos levando porrada até em casa. Bloqueamos Caruaru após 59 minutos de voo e uns 10 minutos depois de passar SNRU apareceu subitamente uma enorme vibração o que de imediato nos fez pensar em retornar para Caruaru, mas após algumas verificações constatamos ser apenas interferência do fortíssimo vento nas pás da hélice. Ou seja, foi uma viagem com direito a emoção até os últimos instantes. Rsrsrsrsrs. Após 1:46 minutos de voo desde Maceió, estávamos tocando o solo de nossa base: Aeroclube de Campina Grande.

Últimos momentos do Traslado.
Roberto e Juan nos esperavam e foi a maior festa, já que o PU-XAB estava afastado de nossa base por 6 longos meses. Ao todo foram 13:44 de voo onde foram consumidos 196,2 litros de combustível, dando uma média de 14,28 litros/h, o que para um regime de 5000/ 5100 rpm nos dá uma excelente média.
Finalmente, né Lincoln.....?


Agradecemos em primeiro lugar ao Grande Arquiteto do Universo por mais esse traslado sem problemas (o terceiro) e a todos que contribuíram para o sucesso dessa empreitada.
Agradeço de forma particular a Lincoln pelos bons momentos de convívio e pela confiança em mim depositada, e desejo que o PU-XAB possa lhe proporcionar muitas e muitas horas de prazer como já me proporcionou.

Um grande e fraternal abraço a todos.