sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Visita à Usina União

Caros amigos.

Neste último sábado, 08 de novembro de 2008 fizemos um passeio legal. Durante a semana, falando com Roberto Dantas, ele me convidou para irmos almoçar na Usina União que fica no município de Primavera, perto de Escada, a sudoeste de Recife. Alguns dias depois, acho que na quinta-feira, Pedro me ligou de Recife “botando fogo na caieira” como se diz por aqui por nossas bandas, ou seja: me incentivando a irmos almoçar lá na Usina, já que ele tem negócios com o pessoal de lá bem como Roberto e Gregório. Depois de dar uma olhada no Google Earth onde peguei as coordenadas e a altitude da região da Usina, fui ao Track Maker para fazer um rápido plano de vôo. A distância que encontrei foi de 79 nm. Pô, pensei, sou louco por conhecer lugares diferentes, acho que vale dar uma esticadinha até essa pista e marcar na caderneta mais um waypoint visitado.

Após mais algumas conversas, acertamos que Roberto levaria seu pai Gregório, Lincoln iria comigo e Juan levaria um amigo. Marcamos a hora provável de decolagem: sábado às 9:00.

Na sexta-feira à noite, preparei o plano de vôo, plotei os waypoints nos GPS’s, imprimi a carta à partir do Track Maker e imprimi também o “calunga” como sempre faço e fui dormir. Pela manhã acordei pelas 5:30 e quando estava tomando meu café da manhã, Lincoln me liga dizendo que iria se atrasar um pouco pois ainda teria que passar na Clínica para resolver algumas coisas. OK, fiquei aguardando e às 9:00 em ponto ele me pegou para irmos ao Aeroclube. Ao chegarmos, o pessoal já estava quase pronto para decolar. Abasteci, coloquei os GPS’s no painel, fiz a inspeção externa e puxamos o PU-WAB prá fora do hangar. Como o pessoal já estava pronto, Roberto e Juan já foram acionando e o primeiro a taxiar para a cabeceira 10 foi Roberto com Juan dirigindo-se ao ponto de espera. Acionei e assisti a decolagem de Roberto, enquanto Juan ingressava para a 10. Após a decolagem de Juan ingressamos e enquanto ia checando tudo e preparando o check de decolagem, ofereci a perna para Lincoln que de pronto assumiu os comandos. Alinhamos e após uma corrida de uns 300 mts, as rodas do FK-9 deixavam de tocar o solo. Neste momento olhei o relógio do painel e verifiquei: 10:10 exatamente. Legal! Uma hora redonda é mais fácil para navegar, né mesmo? Inicialmente, havíamos combinado o FL 055, mas como a camada já estava alta e bem esparsa, preferimos solicitar o FL 075. Fomos subindo devagarzinho e no bloqueio de Queimadas, vamos escolhendo o melhor trajeto para passarmos para cima da camada que estava a 6000 pés e com quantidade 4/8. E agora já estabilizados, lá vamos nós sobre aquele tapete rendado de nuvens num vôo liso como se estivéssemos na nossa sala de estar e eu apenas conferindo as referências visuais e parâmetros do motor. Realmente estava precisando de um vôo lisinho assim, pois ultimamente todas as minhas viagens tem sido muito complicadas com relação à meteorologia, pois sempre tenho me deparado com bastante turbulência e ventos muito fortes. É interessante como o clima está esquisito em nossa região. Este ano o período de chuvas foi muito prolongado e a época dos maiores ventos que sempre acontecia no mês de agosto, tem se mantido até agora em novembro. Muito esquisito!
Pelo nosso plano de vôo nossa proa era 175° e neste momento a componente de vento era de 10 a 12 nós bem de proa o que mesmo a 7500 pés nos dava apenas 90 a 95 knots de VS, mas tudo bem. Na volta se o vento se mantiver ganharemos esses 10 knots, pensei. E fomos avançando: Gado Bravo, Passira, cidadezinhas do interior no nosso Nordeste e já avistamos a BR 232 que liga Recife a Caruaru. Um pouco antes da BR, iniciamos a descida pois já estávamos a 20 nm do destino e logo após, avistamos no través direito a pista do Sítio de Vôo de Chã Grande do nosso amigo Francisco Oliveira. Já pousei nessa pista que tem uma característica muito interessante: pelo fato de sua fazenda se situar em uma região de relevo bastante complicado e inspirando-se em Courchevel na França e em Lukla no Nepal, resolveu construir sua pista no único lugar onde dava prá pousar uma aeronave. A inclinação da pista é muito grande (uns 10°, acho) e pousa-se em uma cabeceira e decola-se da oposta. A aproximação pra pouso nessa pista é bem diferente, pois por mais que se entre bem raso, a pista vai se aproximando numa angulação muito estranha prá quem não está acostumado e sempre se dá uma placadinha no toque, e ao se tocar, o avião pára em poucos metros por conta da inclinação. Já a decolagem é feita com vento de cauda, por isso é necessário aplicar potência máxima com o avião “nos calços” e soltar o bicho ladeira abaixo até que nos vemos lançados num abismo com o avião ainda meio mole por causa da baixa velocidade relativa. Bem emocionante, mas ainda seguro!


E vamos nos aproximando do destino e nada de ver a pista da Usina. 8 nm e nada. 6 nm e nada. Quando estávamos 3 nm fora Juan que já tinha localizado a pista nos dá um toque indicando onde se escondia nosso objetivo. E aí vemos a pistinha que fica num vale no meio de um mundo de cana-de-açúcar como se pode ver nas fotos. Neste momento Lincoln me entrega os comandos. Juan, já na final tenta o pouso, mas julgando-se alto prefere arremeter.
Nós estávamos entrando na perna contra o vento e Roberto nos informa que também já estava na mesma posição. Como estávamos mais baixo e sem visual um do outro, ele gentilmente nos cedeu a vez no pouso. Alongo a perna contra o vento para dar tempo a Juan e vamos entrando na perna do vento com cuidado na velocidade e altitude pois a aproximação é por sobre dois morros que formam uma calha até a cabeceira 13, só que com uma proa bem deslocada com relação ao eixo da pista. Cruzamento da cabeceira 13, 60 knots, 1500 pés já com 1 dente de flap e tiro motor.


O nariz vai cedendo e vamos nos aproximando do morro coberto pela mata atlântica. Neste momento vejo Juan lá embaixo se aproximando para o toque. Entro na base e vou alongando até entrar na calha por entre os dois morros.


Estamos um pouco alto e aplico o 2º dente de flap. Como Juan ainda não havia iniciado o back track, peço para ele permanecer na cabeceira oposta para não precisarmos arremeter. Nariz embaixo, faço uma rampa bem íngreme e a pista vai chegando. É bem estreita, mas deve ter uns 700 mts no meio da cana. Estamos mais rápido do que gostaria, mas vou matando a velocidade no arredondamento e a pistinha vai nos recebendo de braços abertos com o maior carinho. Após um toque macio vou perdendo velocidade sem usar os freios e faço um retorno rápido para livrar a pista, pois Roberto já vem na perna do vento. Confiro no cronômetro: 55 min de vôo. Saímos do avião ainda a tempo de ver o PU-VMA na final, numa glissada bem forte. Alinha na curta final e o toque é perfeito. “Esse cara tá ficando bom nisso”, penso.


Dr. Ilvo e Dr. José Gregório.
Jair e Pedrão.
A pista é totalmente rodeada de morros.

As saudações de praxe, com Pedrão já nos esperando (o cara “tocou fogo” e acabou indo de carro, pois no fim de semana o Aeroclube de Pernambuco foi interditado para uma Prova de Arrancada e ele não pode decolar), para nos apresentar aos simpáticos Dr. Ilvo, Jair e Alexandre, seus filhos e proprietários da Usina União. Papo vai, papo vem, enquanto Jair iniciava um vôo com Roberto, e Alexandre voava com Juan no PU-FBA, o Dr. Ilvo, piloto das antigas, nos falava do Cessna Skylane 182 e do Seneca II que possuiu e os quais pilotava, e do seu encantamento com o desenvolvimento dos nossos ultraleves, pois como falou, antes de nós pousarmos ele achava que éramos uns malucos prá voar de Campina Grande até ali em “ultraleves”, ou seja, a população em geral não conhece muito bem o nosso meio, tanto que na volta dos vôos, os dois irmãos voltaram maravilhados e com a idéia de comprarem aeronaves como as nossas para usarem como ferramenta de trabalho. Ótimo, né mesmo?



Os dois FK-9 e o Sting. Observem ao fundo o relevo.

Prá onde se olha é morro.
Depois disso, fomos até a sede da Empresa onde na Casa Grande nos esperava um delicioso almoço e aí ficamos fazendo lorota uns com os outros num clima de total descontração e cordialidade. Roberto como sempre, muito cansado e à procura de um lugar para sentar e tirar um cochilo, rsrsrsrs.


A Casa Grande.




Dr. Ilvo, Pedro, Juan Roberto, Ricardo e Lincoln.






É verdade ou não é? rsrsrsrs.

Depois do almoço fomos visitar as instalações da Usina e a Usina de Mariquita, uma pequena hidrelétrica que fica perto da pista de pouso.











Lincoln e Roberto.



A Usina de Mariquita foi fundada em 1922.
O FK-9 de Juan. PU-FBA.

Perto das 15:00 já estávamos retornando à pista para os preparativos da nossa volta. Desta vez sou o primeiro a acionar e 15:35 estamos deixando o solo com destino à nossa base: Aeroclube de Campina Grande (SNKB).





O prolongamento da cabeceira 13 de onde decolamos passa por sobre a Usina e neste sentido da pista os obstáculos são menores, pois a Usina foi edificada num vale, mas como tínhamos que pegar à esquerda para a nossa proa de volta, a subida tem que ser bem forte, pois existem muitos morros na região e estávamos saindo de um lugar bem baixo, mas vamos lá... Cenário belíssimo com direito a uma passagem sobre a Cachoeira da Primavera que dá nome à cidade.
Cachoeira da Primavera.



As ascendentes à barlavento vão nos empurrando para cima e vamos ganhando altura até passarmos novamente no través da pistinha de Chico e aí na 123,45 chamo no rádio “Oliveeeeeeeeeeeeeeeira” imitando o sotaque de português, pois Chico é descendente de um gajo nascido na "terrinha". E não é que o tarado responde. Gente, Chico é tão tarado, tão tarado, que instalou um rádio em casa com uma antena no teto, e que fica ligado direto só para ele escutar a fonia de quem passa falando na 123,45 ou quem chega a sua pista sem avisar. Papeamos um pouco na fonia e seguimos em frente. Após o bloqueio da BR 232 estamos cruzando o FL 055 para o FL 065 contornando os enormes flocos de cúmulos até nivelarmos acima da camada.
A BR 232 liga Recife a Caruaru.
Minha querida Campina Grande.
E aí o que o vento nos tomou na ida está nos devolvendo na volta: 110/ 120 knots de VS. Vôo delicioso, deslizando suave numa atmosfera calma escutando Mark Knopfler no MP3 e rapidamente já estamos no ideal de descida. Mas já?? Já tá acabando?? Em rota para o Aeroclube, passamos ao lado do Aeroporto João Suassuna (SBKG), cruzamos a final da 15 de SBKG e já vamos ingressando no circuito de tráfego de SNKB. Sou o nº 1 para pouso: “Para coordenação, PU-WAB na perna do vento da 10 do Aeroclube de Campina Grande”, 3000 pés na altitude padrão, flaps posição 1, 60 kts. Giro base, final e vou me despedindo deste passeio maravilhoso. No pátio o amigo Valdy Gama nos espera para saber das notícias... Os outros vão chegando e em pouco tempo já estamos todos reunidos no solo. Tudo certo. Tudo perfeito. Maravilha! A cabeça está leve e o coração feliz. Aos companheiros meu muito obrigado pela companhia nesse magnífico dia. Valeu!!!